Rafaela tinha 6 anos.
Saia de mais uma de suas aulas de natação pequeno-burguesa.
Na saída não tinha papai nem mamãe esperando. Caminharia por incansáveis, e longínquos, 5 minutos até a sua casa. Lá lhe esperava seu gato macho, Mimi. Afinal Mimi serve pra fêmea, macho... e a criatividade não se expressava nunca!
...
Quando sai da água quente da piscina, que tinha proporções gigantescas, Rafaela corre até o banheiro pra ver se chega antes de suas coleguinhas. Esse era o nome delas: Coleguinhas!
Rafaela não sabia o nome de nenhuma, tinha tanto medo delas que não conseguiu gravar uma graça sequer.
Correndo, em direção ao vestuário ela pega sua mochila e entra no boxe que continha um chuveiro quente.
Neste ato fica ofegante e é tomada de uma alegria imensa. Conseguiu chegar a tempo de não ser vista, de se manter em seu mundo, de não precisar passar a vergonha que tanto sentia com as coleguinhas, de não falar, se expor, berrar, gritar, a tão conhecida loucura silênciosa.
Todas coleguinhas se pelavam, se jogavam shampoo, brincavam. Rafaela rezava pra que toda aquela palhaçada terminasse.
Já de banho tomado, vestida, e entediada, como é até hoje, esperava o fim da festinha.
Quando todas iam embora, ela saia, cheirando a creme rinse, o rosa, e assim caminhava até sua casa. Aprisionada em uma pseudo-liberdade.