domingo, 26 de maio de 2013

Vai mas volta.

20h

Lucíola caminha pelo centro de Porto Alegre. É domingo e sua direção é o mercado público.

Acabou de sair de uma sessão de cinema, assistiu "Abismo Prateado".

O telefone toca, não é o seu e sim o de alguém que está bem próximo. Escuta a conversa:

- Oi Vó, tudo bem?
...
- Vó acho que vou casar.
...
- Eu disse que acho que vou casar.
...
- Eu estava com o Felipe e percebi que com ele tudo é diferente, é tão bom.

...

A conversa já está distante. Nenhum som é inteligível. Mas a sensação, fica.
Ah, como é bom sentir isto, ter esta certeza. Mesmo que um dia acabe como aconteceu com Violeta (a protagonista do filme).
O fim não importa frente a seu início ou  continuação. O fim é o fim, não é pra ser vivido agora.

E o que Lucíola pensa disso tudo? Seu amor foi, mas a melhor parte disso é que ele volta. E o tédio se torna saudade.

O ônibus chega, 5 min. parada esperando sua partida. O açougue tem estampado todas as suas carnes, mesmo frio é bom de olhar. O ônibus parte e então se chega, algumas quadras e o fim do domingo está chegando.

21h. Casa, pijama e cama.

sábado, 18 de maio de 2013

Construindo um caminho em Porto Alegre


A cidade já não é mais tão estranha. O GPS muitas vezes já pode ser deixado de lado e os cinemas estão sendo todos visitados!

Neste contexto que assisti hoje o filme sobre o Renato Russo: Somos tão Jovens.

Bom, o ator que faz o Renato (Thiago Mendonça) é muito bom, soube interpretar muito bem e a voz ficou quase idêntica (até pensei que no tributo que a MTV fez pra Legião com o Wagner Moura poderia ter sido substituido pelo Thiago). Fora isso o filme foi feito cheio de boas intenções e conta direito a história da vida do Renato desde quando ele chegou em Brasilia até criar a Legião. Porém, faltou todo o resto, como era a banda em si, e como ele lidava com o sucesso, etc, etc, etc. Ficou um rombo muito grande!

Fora isso, apesar do filme não ser nota 10, posso dizer que como fã de carteirinha nº 1 da Legião, fui transportada para meu passado. A adolescência do Renato era como ver a minha (em partes ok?). Lembrei muito do dilema que entrei entre escutar Ramones ou Nirvana e ambos tocavam loucamente em meu DISCMAN e eu viajava sempre com a minha caixa de cds (era tipo uma maletinha que se guardava os cds com a capinha... tinha também as maletinhas de fitas, mas nesse período eu ainda não sabia de uma banda que eu gostasse ainda). Enfim, era eu e meu discman, Ramones, Nirvana, Alice in chains e Legião é claro! Nesta luta de estilos eu tendi mais pro Nirvana e apesar do estilo grunge da banda eu fazia questão de me vestir toda de preto (até os tênis eu pintava de preto). Comprei uma guitarra Golden (preta também), porém não saia nada. Mas o estilo eu vivi por um tempo. Estava sempre no bar do Zeppelin e na Floresta (Lá no Cassino). Depois veio The Doors, Janis Joplin... mas foi depois. Eu vivi aquele tempo do Nirvana mesmo, e apesar de eu ser uma adolescente de baixa auto-estima e cheia de comportamentos auto-destrutivos eu posso dizer que teve alguma coisinha de boa, eu tinha meu melhor amigo e estava aprendendo a andar na "rua" à noite... Nessa época eu descobri o livro "a revolução dos bixos" do Orwell e também lia Marx, e os "escritos contra Marx" do Bakunin. Entre Marx e Bakunin também fiquei com a segunda opção: Bakunin. Parando pra pensar nisso tudo vejo que eu era cheia de ideias anarco-punks mas escutando grunge (contradições da adolescência e da vida!!!!).

Agora estou aqui, com 27 anos e pensando nisso tudo, pensando que eu gostava daquela minha irreverencia, quando eu descobri os existencialistas eu fiquei mais feliz ainda. Mas falo agora triste que não sei onde foi que eu me perdi. Talvez eu tenha me perdido quando decidi que eu queria ser "normal" e hoje me encontro num lugar que não quero tanto (pensei que queria mas vejo que não) que é a academia. E pra quem ama o existencialismo estou bem submetida ao positivismo e buscando status acadêmico.

Hoje vejo que eu me encontro aqui e não tenho mais como voltar atrás mas pode ter certeza que este filme mexeu com minha acomodações e eu não vou excluir nem o presente e muito menos esquecer o passado, quero apenas ver uma forma inteligente de juntar as duas coisas. Estar dentro do sistema talvez, mas não de forma tão acomodada.

Agora posso dizer: que venha Deleuze e Guatarri.