sábado, 7 de dezembro de 2013

Tiro

O homem deitado está sangrando, sai de sua cabeça tanto sangue que mesmo que só eu veja, me apavoro. Pablo, o cara de boné, que deu o tiro, possuía também uma gravata. Estava se enforcando aos poucos e vendo até quando seguiria caminhando com pouco ar.
Mas voltando ao homem deitado, ele tinha as mãos secas e ásperas, aquelas que não tocam ninguém, ou se tocam chegam a deixar a pele vermelha.
Ele estava deitado, ensaguentado, morto com suas mãos privadas. Não privadas agora, privadas desde sempre.
Logo correram boatos pela bairro, a cidade é grande, mas no bairro todos se conhece. Dizia o porteiro que ele era do prédio vizinho e que o Pablo era seu primo e tinha problemas de cabeça (suspeito eu que a falta de ar fez com que o sangue não fosse para a cabeça faltando oxigênio para o cérebro, mas são só suspeitas).
Voltando, o porteiro disse isso. Já o pipoqueiro, que trabalhava na escadaria próxima ao assacinato, disse que todos os dias ele passava ali pelas escadarias, as vezes comprava pipoca e até era legal, mas o por quê dele ter sido baleado, e na cabeça, ah isso ele nem suspeita, aliás ele disse: "coisa de gente grande não é comigo, eu só vendo minha pipoquinha, volto pra casa e fico com minha veia, não sei mais nada seu moço".
Eu perceber que isso é coisa de gente grande. Mas que gente grande é essa? O que o pipoqueiro quis dizer com isso? Meio ilógico... principalmente pra mim que entendo as coisas no literal.

Enfim mais um homem morto. No dia seguinte encontrei uma vizinha no elevador, coisa rara porque aqui, apesar do prédio grande não se divide elevador, deve ser coisa de cidade grande. Porém quando se divide também não se conversa, se possível nem se dá oi. Mas não é que, desde então, todo o prédio esta a comentar. É um entra e sai no elevador, todos querendo pegar o elevador juntos, todos querendo saber porque mataram o Cardoso. 
Dentre as diversas histórias, essa vizinha que encontrei no elevador disse que a mulher traia ele. O Pablo era o amante da mulher dele, e apesar de o Pablo insistir pra ela ficar com ele, a mulher não largava o osso do marido, no caso o Cardoso. O Pablo, com a auto-estima baixa pensou logo, se ela não tá comigo, não vai ficar com ninguém e tratou logo do assunto.

Mas essa não era a única história, tinha gente dizendo que ele nem era o Cardoso nada, que o Cardoso saiu de férias com a esposa e que quem morreu foi o Pablo, justamente porque foi se encontrar com a mulher do Cardoso, mas como ela não estava em casa resolveu voltar pelo túnel, à noite e deu no que deu né, assalto a mão armada seguido de morte. Morte essa com tiro na cabeça e direito a muito sangue.

Se ele era marido ou amante eu não sei, mas que as mãos não eram acostumadas com o toque macio, ahhh isso não eram!

Ah e essa última sou eu, aqui casa sentada casa escutei o tiro, logo pensei, Ah seu Cardoso, andando na rua a essa hora?!

Enteadas




Sempre quis ter filhos, porém sempre adiei para daqui a 20 anos, depois 15, agora 10 e mesmo assim, confesso que não sei.

Eis que fui à Pelotas ver meu companheiro, fui no bate e volta, afinal tenho concurso no domingo. Enfim, voltei para Porto Alegre e cheguei pelas 17h. Como de costume senti uma vontade imensa de estar lá com ele e com minhas enteadas.

Recentemente li uma reportagem que dizia que hoje enteados(as) são mais frequentes em nossas vidas do que imaginamos e confesso que sinto isso na pele, aliás no coração.

Passado o desejo de estar lá e não aqui, me acomodei em meu ninho, assisti televisão, adiei os estudos e os e-mails. Resolvi ligar para meu namorado, ver como estão as "coisas" e eis que grita uma vozinha do fundo "eu quero falar com a tia Marcela" e logo em seguida outra voz diz "eu primeiro". Enfim minhas enteadas. Duas meninas lindas, 4 e 6 anos. A de 6 fez aniversário mês passado. Dois presentes, que eu tenho acompanhado o crescimento e um laço que não entendo exatamente, mas que está aí, a todo momento vivo.

Confesso, que como psicóloga, mas mais como uma defesa minha, faço questão de me manter em meu lugar, ou seja, não suprir as necessidades de pai e mãe e não me sentir responsabilizada por elas, apesar de minha mente estar sempre preocupada e fazendo ensaios diferentes dos da realidade. Normal... mas ficam só nos pensamentos, afinal sou a Madrasta.

Minha relação com elas é bem clássica, vejo de 15 em 15 dias e fico só com a parte boa que é: sorvete, cinema, passeios de carro, parque e afeto gostoso. Mesmo com essa distância é bom, confesso que é bom demais.

Percebo quando uma está mais gordinha e logo espicha e emagrece, vejo o dente da outra cair, olho as mãozinhas crescendo e fingindo serem adultas, afinal estão sempre com esmaltes mal pintados e com purpurinas. Ah, sem contar as sessões de maquiagem, que podem ser a brincadeira de uma tarde toda, cada uma tem seu estilo e ficam bonitas a seu modo.

Não posso negar que ganhei dois presentes, também não saio gritando aos sete ventos, em um ano e meio é a primeira vez que escrevo sobre isso e penso que esse cuidado faz parte.

A partir disso tenho desejo de vê-las crescendo, do jeito que me cabe é claro, mas quero muito ver tudo isso.

E apesar de continuar com os planos de ter filhos somente daqui a 10 anos, elas fizeram eu ver que ter crianças por perto é bom, e mesmo que dê trabalho, existe algo de mágico que me parece valer a pena.

Este é um depoimento singelo mas queria deixar registrado, mesmo que só eu leia, mesmo que só eu saiba, são tantas coisas aqui dentro de mim que senti vontade de colocar pra fora. Ficaria um dia todo falando de apenas uma tarde que fico com elas, mas apesar de belo, seria um pouco enfadonho.

E só para finalizar, enteados(as) valem a pena!

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Espaço

Existe um momento em que surge um abismo, nada mais te liga ao outro. A relação não é tão prazerosa, sobram espaços apenas para as críticas. Neste momento o espelho quebra, fica turvo, não consigo ver nada com clareza.

A imagem que reflete não é compreensível, talvez seja a vida que vai acontecendo, nós que vamos nos desconstruindo, e quando se constrói novamente não se é mais o mesmo. O que era graça, virou tédio, e qualquer comportamento é repudiado. É momento de parar e pensar, onde quero chegar? Até quando eu vou? O que quero de verdade?

As repostas inexatas surgem, e se permanece no mesmo. Empurrando com a barriga, fingindo que não vê, colocando óculos escuros no quarto que já está escuro. Quem acenderá a luz?

Me abstenho, fico quieta, com medo do que a luz vai me mostrar. Não quero largar tudo novamente, mas não tenho mais tesão no presente. Então tapo os olhos, e brinco de esconde-esconde todos os dias. Larguei a bicicleta, não ando mais, entende? Não vou, só fico aqui, no escuro parada, tomada por angustias, comidas, tristezas. O seu oi, agora, sempre acompanhado de um deboche a meu respeito. Meu sorriso é de meia boca, totalmente sem graça. Não temos mais nada que nos liga, não sonhamos mais em ficar juntos, não temos músicas em comum, não gostamos de ler os mesmo livros, a única coisa que ainda nos liga é o cinema, fora isso, nem a comida mais combina.

Andei pensando nos movimentos da vida, nas transversalidades, naquela possibilidade de abrirmos a tampa da garrafa que boia no mar e então virarmos mar. Não sei se temos talento pra isso, não sei se conseguiremos, não sei se posso. É mais fácil virar só, nestas relações atuais de pouca constância, do que ser mar junto.

Aos poucos, escrevendo, fui acendendo a luz. Agora apago. Não quero ver mais nada. Quero deixar para a hora que vou te ver e então, quem sabe conversar. Ou mais uma vez calar, adiar mais um dia a discussão, justamente porque de uns anos pra cá, não quero mais discutir, quero o silêncio e quem sabe na morte de minhas palavras, surja a morte de nós, não que eu deseje, mas sei que pode acontecer. Não sei se luto ou não. Estou cansada, queria que meus pensamentos fossem lidos, melhor, queria apenas existir sem valores, porque assim, nada me incomodaria.

Isto é sentimento, um amor, que talvez valha a pena ser reconstruído.
Isto sou eu, aqui, escrevendo coisas que parecem sem sentido.
Isto não é julgar alguém, é apenas tentar compreender um mínimo do meu incompreensível.

domingo, 27 de outubro de 2013

Retorno

Talvez eu queira desfazer alguns passos

Voltar atrás mesmo

Deixar de ser tão paciente, deixar de fazer que não me afeto.

Talvez seja hora de voltar a ser autêntica, principalmente visceral,

O talvez e a dúvida...

Enquanto vou sendo certa, diplomática e regradinha, vou me perdendo em favor dos outros.

As relações, sabe?!

Pois então, talvez seja hora de retornar, zelar mais por mim do que pelo outro.

Exausta, aqui, elaborando o Caos.

Gerando a dúvida do futuro ao invés de sua certeza monótona.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Tempo

Lucíola sentada no carro, em pleno engarrafamento, se olha no espelho. Percebe seus olhos mais caídos nos lados, e embaixo eles passam a ganhar uma linha que não possuíam outrora.
O tempo passou, passou, passou e ela não viveu.
Aliás só se deu conta que ele existia quando viu suas marcas em seu rosto. Na verdade já havia percebido no rosto de seu irmão, no de seu namorado, no de seus pais. Mas acreditou que com ela não aconteceria, e eis que além de ver o tempo ela passa a senti-lo.

Com o passar do tempo ela vai percebendo que é finita, e que é aproveitar ou então repetir a mesma rotina.
E quando falo em rotina serei explícita:
Acordar tarde, até porque não sabe o que fazer com o tempo livre das manhãs, correr à tarde em seus estudos e ofício, afinal está sem tempo, à noite lamentar que está longe de seu namorado e então não se sente aproveitando o tempo.

Quando tempo Lucíola dedica a si a aos outros? Quantas amizades ela já fez em sua nova cidade?

A resposta é zero. Zero tempo! Zero café, zero conversa, zero amizade, zero dedicação ao outro. Talvez até hoje, até o momento que viu seus olhos pequenos e murchos na frente do espelho não tinha percebido que não se doa. Preferiu reclamar a falta que cultivar a presença, e eis então que fica mais fácil pensar em voltar pro lugar que tinha tempo ao encarar que aqui também poderá ter tempo, e tempo dos bons!

Talvez a partir de hoje, vá que seja mesmo, ela se assuma como viajante. Sempre foi assim, sem lugar certo, passageira, mas como quem tá de passagem não tem tempo, poderia sim ser viajante, daqueles ávidos a conhecer pessoas e lugares.

Acordar cedo para passear na quadra; conversar com o Walter, o porteiro; ligar para as pessoas e marcar cafés, ler o capítulo do livro que sempre diz não ter tempo; viver mais sua vida e lamentar menos a ausência de um sonho que nunca chega, um sonho fantasia, que ao que parece não se fará realidade por si só.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Gotas

Acordei e a chuva estava beijando a terra, em seguida ela saltitava e saia dançando tal qual uma bailarina descalça.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Férias

Existe um dia, ou semana, que queremos tirar férias de tudo.

Enfim chegaram as férias de julho... e junto delas vem a vontade de tirar férias da academia, das leituras, da dieta. E eis que me surge algo novo. Tirei férias por um dia dos últimos três itens e estou louca para que eles retornem à minha rotina. Talvez as últimas coisas nem sejam mais dever e se tornaram hábito. Se eu parar pra pensar, já faz tempo que cultivo academia, dieta e leituras e justamente por serem atuais hábitos é sinal de que já habitam em mim.

Enfim, não preciso descansar dessas coisas, afinal elas nem me cansam mais.

E nessas horas eu vejo que valeu a pena, nunca desistir, sempre retomar.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

48h

Os dias deveriam ter 48h.

Frase comum, e as vezes tão sensata. Veja bem, as vezes!

Fico me perguntado de onde saiu esta frase, por quê começou a se difundir por aí e hoje é quase que um mantra?

Enfim, vamos pensar...

Um dia com 48h significa menos tempo de sono/descanso, logo mais tempo de produção.

Produção? Sim!

Enfim, se pararmos pra pensar esta frase geralmente surge quando a pessoa está cheia de tarefas e sabe que não vai conseguir cumprir nem a metade, eis que surge a frase: Os dias deveriam ter 48h?

Agora eu pergunto: essas 48h é pra quem?

Veja bem, entrei neste raciocínio porque antes de começar a escrever eu justamente pensei nesta frase. Não posso generalizar, mas posso falar da minha experiência e de algumas que eu vejo.

Enfim, é sempre uma produção pra si e para o outro, mas não há nada demais nisso, o que há de mais é justamente o fato de que essa produção se inclui neste contexto pós-moderno onde não ter tempo é Normal e Parar para descansar é Anormal. Ou seja, as coisas estão confusas.

O que importa hoje é a produção, não interessando muito sua forma ou suas consequências, aliás olhar para isso é o sinônimo de pensar, e pensar pra quê? Não é verdade?

Vamos lá mulas, coloquem seu foco na produção e sintam culpa por tudo que não estiver relacionado a isso. Morra pedindo a Deus só mais 24h, sem ao menos perceber que tens um corpo, relações, vida e limites. E que tudo deve ser cuidado e preservado, afinal a produção depende das outras esferas saudáveis, senão o surto é certo.

Enfim, eu estava aqui pedindo mais 24h do meu dia, falando para minha visita ir mais tarde lá em casa, adiando a academia, tudo pra produzir. Meus valores estão se invertendo, justamente porque criaram uma velocidade que me atropela.

Agora eu paro e penso, atropelada por atropelada mesmo eu vou ir embora e as outras coisas que venham, porque produção só amanhã e se der vontade.

domingo, 30 de junho de 2013

Eu estou assim aqui.

Não sei se estou de passagem ou definitivamente nesta terra, mas algo me diz que está tudo lá e nada aqui...

Eu acordei

Essa noite eu sonhei com você.

Eu dobrava em uma rua e justamente neste instante você passava em um carro. Você estava dirigindo me olhou.

Eu corri, corri muito, fugi enlouquecidamente, mas você me alcançou.

Eu estava com tanta saudade e você me disse que estava ali escondido. que tinha hora para voltar. Era verão, estávamos com roupas levez. Talvez estejamos assim hoje, sem nem nos dar conta.

Antes de ires, fomos no super, comprastes comida pra mim, me alimentaste. Seu irmão apareceu, me deu oi. Ele sabia que tudo ali era as escondidas.

Vocês foram, e eu continuo com saudade.

Acordei triste. Preocupada. Querendo saber de ti. Pensei que poderias estar bem ou muito mal. Confesso que acreditei mais na última opção.

Enfim, acordei e tu não estas mais aqui. Aliás concretamente tu foste.

Insistente-mente

Toda ida sua é um vazio.

Eu tento sempre,
perto da hora de ires embora,
ou durante a semana mesmo,
acreditar que não me amas mais,
que com certeza você sai com alguém além de mim,
que não há dúvidas que és um arrependido em relação ao fato da sua separação.

Eu tento
Eu juro que tento

Mas nada disso ajuda.
Nem ao menos atrapalha
porque acredito nisso até a hora que escuto sua voz ou vejo seu rosto.

Mas eu tento
Juro que tento

Eu tento acreditar nisso porque a dor é sempre grande,
e vou atrás da fórmula para burlá-la.
No fim sempre percebo que nada adianta,
não há jeito de fugir ao que sinto.

Mas eu tento
Juro que tento

A dor não acaba.
E toda semana é o mesmo ritual.
Você chega e depois vai embora,
ou vice-versa.
E os fins de semana ficam confusos, porque está sempre presente
o prazer de estar contigo e a dor da separação.

Mas eu tento
Juro que tento

Acredite,
as vezes penso que vou enlouquecer.
As vezes imploro para não passar por isso.
Rezo para que eu não sinta nada.
E no fim concluo que não passar por isso pode ser pior ainda, afinal poderia estar diretamente ligado ao fato de eu não te ver.
Então desfaço a reza.

Mas eu tento
Juro que tento

Nunca pensei que passaria por isso mais uma vez.
Porém, todo fim de semana se repete.

E sempre, a única coisa boa de quando vais é a certeza de que voltarás.

Eu tento
Juro que tento.


domingo, 2 de junho de 2013

Elena e Adalberto

Hoje assisti ao Longa Elena. Neste filme a irmã de Elena, Petra Costa, vai até Nova York numa busca simbólica atrás de Elena que havia se suicidado quando Petra tinha 7 anos.

Fiquei muito comovida com o filme...

Casualmente estava olhando o meu "google.docs", ferramente que eu nem sabia que existia (desculpa a ignorância) e me deparo com um poema/carta que recebi de um amigo, Adalberto, que sofria da mesma doença de Elena e também se suicidou.

Hoje vejo, que descaradamente ele dizia que ia se matar, na época minha cegueira não enxergou de forma tão clara. Nestas horas apesar dos estudos, da cultura, da proximidade... ficamos em partes cegos, e isso é angustiante. Ter em mente que isso poderia ter sido evitado me deixa sempre com culpa. Culpa que hoje já é menor do que na época.

Antes de sua morte ele me ligou, dizendo adeus, não literalmente, afinal me disse que estava indo para Florianópolis.  Mesmo assim procurei-o por toda a noite e não o encontrei. As 10h me ligaram falando que ele havia se jogado na frente de um trem e que a última ligação de seu celular foi para mim.

O ano era 2009 e nós davamos aula de teatro num colégio de irmãs. A turma ficou em choque, segui o trabalho até o fim do ano. Apresentamos quatro pequenas peças, sendo duas de sugestão do Adalberto.

Meu grande amigo deixou saudades, tanta dor que surgem lágrimas.

Aqui está o que ele escreveu:

Sou um Corajoso

Ando estressado
Quem me olha nem percebe
Pareço tão feliz
Como pode?
Escrevi uma carta
Antes fiz uma rápida pesquisa na Internet
Achei alguns contos
Alguns relatos
Conselhos de especialistas
Maneiras e dicas
Nenhuma me convenceu
Já to decidido
Ora...
Quem me convence que o céu tem anjos
Bobagem
Se eu acreditar nisso
Me desmoralizo
Perco a  coragem
E em Deus, hein?
Ou melhor deus
Pra que acreditar nisso
Nunca o vi
Nem o senti
Ele me protegeu até aqui
Dizem...
Pra que...?!
Pra eu acabar assim?
Só pode
Melhor deus pra mim
è um homem perfeito
Branco, sem pelos, bem desenhado
Novo, tenro, olhos azuis e cabelos claros
Bom na cama
Que faça o que eu quero
Que só tenha olhos pra mim
E nem precisa ter cérebro
E pergunto “isso” existe?
Acho que não...
Então não existe deus
Esse blá blá blá todo
É pra me despedir desse corpo sem dó de mim
E sem esperança de renascer
Não acreditar em céu ou inferno
Me dá a tranquilidade
De partir sem medo
E ser uma única vez na minha vida
Corajoso.



Adalberto Oliveira Tolentino
Em meu serviço na Central de Obitos
em 22/07/2009 quarta-feira
termino aproximado as 05:04h
Escrevi depois de pesquisar sobre suicidio na internet

e escrever um e-mail pra minha maninha Kelen



existe um momento em que é preciso ir
mesmo que todos os laços, estejam atados
é hora de ir
tirar um a um
existe um música em cada um
que tem que ser escutada
devemos seguir em frente
existe uma dança
só nossa
nos esperando
os pés se movem
o corpo quebra o ar
o movimento liberta
liberta a nossa música interna
just go
for never return to the last
just for to go
its time
its now
its here
in my body
in my soul
in my time
with my life
I need all my life
and I see
every think I can go
now a know
I know that I can do my party
my dance
and my life

domingo, 26 de maio de 2013

Vai mas volta.

20h

Lucíola caminha pelo centro de Porto Alegre. É domingo e sua direção é o mercado público.

Acabou de sair de uma sessão de cinema, assistiu "Abismo Prateado".

O telefone toca, não é o seu e sim o de alguém que está bem próximo. Escuta a conversa:

- Oi Vó, tudo bem?
...
- Vó acho que vou casar.
...
- Eu disse que acho que vou casar.
...
- Eu estava com o Felipe e percebi que com ele tudo é diferente, é tão bom.

...

A conversa já está distante. Nenhum som é inteligível. Mas a sensação, fica.
Ah, como é bom sentir isto, ter esta certeza. Mesmo que um dia acabe como aconteceu com Violeta (a protagonista do filme).
O fim não importa frente a seu início ou  continuação. O fim é o fim, não é pra ser vivido agora.

E o que Lucíola pensa disso tudo? Seu amor foi, mas a melhor parte disso é que ele volta. E o tédio se torna saudade.

O ônibus chega, 5 min. parada esperando sua partida. O açougue tem estampado todas as suas carnes, mesmo frio é bom de olhar. O ônibus parte e então se chega, algumas quadras e o fim do domingo está chegando.

21h. Casa, pijama e cama.

sábado, 18 de maio de 2013

Construindo um caminho em Porto Alegre


A cidade já não é mais tão estranha. O GPS muitas vezes já pode ser deixado de lado e os cinemas estão sendo todos visitados!

Neste contexto que assisti hoje o filme sobre o Renato Russo: Somos tão Jovens.

Bom, o ator que faz o Renato (Thiago Mendonça) é muito bom, soube interpretar muito bem e a voz ficou quase idêntica (até pensei que no tributo que a MTV fez pra Legião com o Wagner Moura poderia ter sido substituido pelo Thiago). Fora isso o filme foi feito cheio de boas intenções e conta direito a história da vida do Renato desde quando ele chegou em Brasilia até criar a Legião. Porém, faltou todo o resto, como era a banda em si, e como ele lidava com o sucesso, etc, etc, etc. Ficou um rombo muito grande!

Fora isso, apesar do filme não ser nota 10, posso dizer que como fã de carteirinha nº 1 da Legião, fui transportada para meu passado. A adolescência do Renato era como ver a minha (em partes ok?). Lembrei muito do dilema que entrei entre escutar Ramones ou Nirvana e ambos tocavam loucamente em meu DISCMAN e eu viajava sempre com a minha caixa de cds (era tipo uma maletinha que se guardava os cds com a capinha... tinha também as maletinhas de fitas, mas nesse período eu ainda não sabia de uma banda que eu gostasse ainda). Enfim, era eu e meu discman, Ramones, Nirvana, Alice in chains e Legião é claro! Nesta luta de estilos eu tendi mais pro Nirvana e apesar do estilo grunge da banda eu fazia questão de me vestir toda de preto (até os tênis eu pintava de preto). Comprei uma guitarra Golden (preta também), porém não saia nada. Mas o estilo eu vivi por um tempo. Estava sempre no bar do Zeppelin e na Floresta (Lá no Cassino). Depois veio The Doors, Janis Joplin... mas foi depois. Eu vivi aquele tempo do Nirvana mesmo, e apesar de eu ser uma adolescente de baixa auto-estima e cheia de comportamentos auto-destrutivos eu posso dizer que teve alguma coisinha de boa, eu tinha meu melhor amigo e estava aprendendo a andar na "rua" à noite... Nessa época eu descobri o livro "a revolução dos bixos" do Orwell e também lia Marx, e os "escritos contra Marx" do Bakunin. Entre Marx e Bakunin também fiquei com a segunda opção: Bakunin. Parando pra pensar nisso tudo vejo que eu era cheia de ideias anarco-punks mas escutando grunge (contradições da adolescência e da vida!!!!).

Agora estou aqui, com 27 anos e pensando nisso tudo, pensando que eu gostava daquela minha irreverencia, quando eu descobri os existencialistas eu fiquei mais feliz ainda. Mas falo agora triste que não sei onde foi que eu me perdi. Talvez eu tenha me perdido quando decidi que eu queria ser "normal" e hoje me encontro num lugar que não quero tanto (pensei que queria mas vejo que não) que é a academia. E pra quem ama o existencialismo estou bem submetida ao positivismo e buscando status acadêmico.

Hoje vejo que eu me encontro aqui e não tenho mais como voltar atrás mas pode ter certeza que este filme mexeu com minha acomodações e eu não vou excluir nem o presente e muito menos esquecer o passado, quero apenas ver uma forma inteligente de juntar as duas coisas. Estar dentro do sistema talvez, mas não de forma tão acomodada.

Agora posso dizer: que venha Deleuze e Guatarri.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Iato

Era mais um dia, desses que se acorda cheio de tarefas e se termina com mais delas não resolvidas. Mais um dia onde tudo ficou pra amanhã. E sem se dar conta, ela foi empurrando com a barriga, igualzinho a todos os que faziam parte de seu dia e seu futuro.

Junto disso vinha um aperto no peito estranho, uma tristeza inconsolável e uma falta de amor próprio. Não havia mais auto-estima que fizesse com que ela se posicionasse e nem certezas que fizessem ela seguir, como se as certezas servissem para alguma coisa, Aliás, até serviam, para fazer com que no decorrer agente visse que estava tudo errado, e incerto.

Se não tinha mais auto-estima podia ter certeza que esperava que alguém lhe estimesse. Ledo engano. Impossível alguém olhar com bons olhos uma imagem que se menospreza.

E neste espaço que vinha vivendo, foi perdendo sua fé.

Eu juro, juro que ela tentou!

Rezou pra mil santos, Deus e o Demônio. Emplorou pros céus de todas as formas. Mas parecia que o Demônio não entendia sua lingua e, além disso, Deus havia perdido suas orelhas. E ja sabem né? Um Deus sem orelhas não há santo que se faça escutar!

Assim ela se entregou ao niilismo e ao iato que vivia, estava apenas esperando passar, e mais uma vez deixando pra decidir e resolver tudo amanhã.

terça-feira, 5 de março de 2013

Minhas lágrimas escorrem porque é o fim de uma parte da vida. Existe uma mistura de tristeza com hormônios que gera está combinação bombástica. Se já não bastasse o habitual... começa uma pequenina catástrofe.

Me desterritorializo e terei que achar outra terra, criar outro canto, arrumar as coisas pra ver se ficam um pouco do meu jeito.

Existe uma angústia nisso tudo, o novo é o novo e junto dele vem seus desafios. Mas como sempre caminho, a passos largos, mais um passo está acontecendo e mais uma vez não voltarei atrás. Porque meu rumo é em frente, aqui não falo de geografia e sim de vida. Porque geograficamente seguirei voltando, voltando pra seguir em frente.

É um grande clichê meu escrever sobre ciclos que se fecham, e caminhos que se abrem, mas talvez esse seja meu dilema eterno, ou seja, essa minha mania de nunca parar. Nunca me satisfazer, sempre seguir crescendo e assim abrindo novos mundos.

Que surja então um mundo novo, cheia das minhas coisas velhas, afinal eu gosto muito delas.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

cabeça

Se eu pudesse eu deceparia minha cabeça.

Mas queria poder assistir de fora também.

Gostaria de ver minha carne cortada e todo o sangue jorrando porque assim quem sabe me sentiria viva.
Sim, está é a redundância da morte, com ela descobrimos que estávamos vivos, e quando tem muito sangue então, descobrimos que éramos muito vivos.

Enfim, nem uma coisa nem outra vai acontecer. Não vou descepar minha cabeça e nem mesmo descobrir que estou viva. Continuarei neste nada que me aflige, fumarei mais um cigarro, e verei o tempo passar pela minha janela.

Agora me dei conta, que se me aflijo é porque estou viva, descobri o que queria ao decepar minha cabeça e então o que quero realmente é o fim. Que chegue logo esse fim, só não sei qual fim ainda mas pode ser qualquer um que me deixe viva.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Bons ventos

Estou voltando. Nunca tive a pretensão de ser escritora, nunca estudei nada a respeito de como se deve escrever, porém, sei que aqui me encontro.

Desde sempre o homem simboliza, e assim se organiza. Os homens da caverna desenhavam nas paredes para se ver, e assim, entender ou até quem sabe deixar estancado o caos incompreensível da existência.
Um homem que não simboliza, está a beira de enlouquecer.

Pra isto me serve a escrita, não sei se os leitores compreendem (se é que existem), as vezes eu mesma considero vazio e escroto o que escrevo. Mas quem disse que existir também não é vazio e escroto?

Buenas, bons ventos me trazem. Estou completamente caótica, mas é o caos mais bem vivido em toda minha vida e talvez o mais maduro e compreendido por mim.
Estou me mudando, vou pra Porto Alegre. No mínimo ficarei por lá durante dois anos. Além disso, minha analista me deu alta, estou no processo da alta.

Muitos me dizem, que momento maravilhoso! E eu penso, sim é maravilhoso, mas é horrível ao mesmo tempo.
Tenho meus vínculos em minha cidade. E viver a mudança me remete ao dia que minha babá foi embora, às diversas vezes que eu mudei de colégio e todos os meus colegas ficaram por lá, às mudanças de cidades, que foram 4 vezes e tudo que ficou por lá, sem contato.

Agora sou adulta, não preciso mais deixar as pessoas, já sei ir e vir, me comunicar e dizer que vou mas também quero ficar. Mas infelizmente existe algo que a distância geográfica faz que eu não sei explicar, só sei que dói e vai doer muito. O que me acalenta é o fato de que tenho um mundo me esperando, mas quero ser prudente, e ter sempre comigo que agora pra viver em um mundo não é preciso abandonar outro.

Ah, crescemos e temos que aprender a administrar... e como vai ser difícil fazer isso sem minha analista! O lado bom é que tenho este lugar e não há dúvidas de que aqui, justamente quando estou fazendo isto (escrever), me sinto ao menos materializando, simbolizando um milésimo de algo dentro de mim.

Por mais um dia, minha loucura espera, desejando me tomar completamente.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Nomes

A sociedade me deu a aliança
os nomes...
FICANDO
NAMORANDO
NOIVOS
CASADOS
AJUNTADOS
SEPARADOS

A sociedade me deu
receita pra ser feliz...
TER FILHOS
MORAR JUNTO
BOA ESCOLA PARA AS CRIANÇAS
TRABALHO QUE ME PAGUE BEM

A sociedade me encheu de estigmas

Me deu muitas coisas

e eu encontrei, no meio disso tudo,

o olho no olho e todo o resto perdeu a graça.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

enquanto as pessoas se cobriam com marcas eu descobria livros

ou seja

pra maioria eu sou um fracasso!


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Mudança.

O clima é este e a realidade também. Estou no caminho, ainda não sai totalmente, nem cheguei por inteiro. Então o que acontece é que passado e futuro se confundem e fica quase impossível viver o presente.

Estado emocional suscitado pela geografia. Ah, se os geógrafos soubessem o quão de filosófico tem sua profissão...