segunda-feira, 28 de novembro de 2011

um fim


extremamente só

um completo fazia
falta de crença
na vida

meu mundo está ruindo
e eu estou assistindo tudo
sem ter como fazer algo

tudo que faço
não tem resultado

domingo, 27 de novembro de 2011

Eu não estou podendo parar

parar é dar nome ao que está aqui dentro

e isso me assusta

assim, vou tendo overdoses de coisas a volta

cantam, recitam, encenam

e aqui dentro fica sem nome, não localizo, não vejo, não sei o que sinto.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011


entra em mim/ como ar vai tomando conta/ não falseio/ não minto/ não atuo, brinco. nada mais confuso.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011



e por mais que pessoas me rodeiam

a solidão sempre vai existir

porque ela é parte de mim e do todo

vem assim no vazio e no cheio

faz o pensamento voar

um fio condutor que se rompe, e a energia muda.

nesta hora é triste mas plenamente humano

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Um amigo morreu

Um amigo meu morreu ontem às 15h... algo que ele escreveu:

nas horas medonhas só!

quando se tem vertigem,


quando não se tem nínguem, 


que quando de tanto pensar no princípio,


o ser se abala e os pensamentos são nós...


(Carlos Eduardo Peil-Kadu)

Colado

Por que insiste em habitar em mim?
Ah, vã tentativa sua de me seduzir, de me fazer ir
ficas ali
como morte que não sai de mim
colaste em meu corpo
e agora preciso lutar
mesmo sabendo do início
finjo que ele nunca existiu

sábado, 5 de novembro de 2011

Sexus - Henry Miller

"Havia um desacordo terrível entre esse novo estado interior e a atmosfera física da vizinhança que eu era obrigada a atravessar toda noite. Por toda parte erguiam-se paredes sombrias e monótonas; atrás delas viviam famílias cuja vida baseavam-se inteiramento num emprego. Escravos industriosos, pacientes, ambiciosos, cujo único objetivo era a emancipação. Nesse meio tempo aturavam quase tudo, insensíveis ao desconforto, imunes à feiúra. Pequenas almas heróicas cuja obsessão de se libertar da servidão do trabalho só servia para ampliar a pobreza e a miséria de suas vidas"

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Estações

todo dia que vou deitar

não te vejo

não sei mais onde estas.

Em primavera

será que ela verá?

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Retrato

Eu vi na foto

não parecia ser quem era

as fotos

mentem.

Falas

trocar palavras

ato humano, social, para a maioria comum

gera tanta coisa

tudo ganha tanto nome

que até assusta, mas

é vício

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Quando me tornei experimento

Ana Délia sempre se viu em três, horas era Ana, outras era Délia e às vezes Ana Délia.
Todos os dias caminhava inocentemente pela rua estreita de paralelepípedos e passava por uma porta que dizia AQUI TRATAM-SE PESSOAS, em baixo da frase estava exposto o símbolo da radioatividade.
Délia se intrigava com aquilo e mil perguntas surgiam em sua mente, perguntas secretas que não abria nem pro melhor amigo.
Em plena quarta-feira ela resolve acordar uma hora mais cedo para poder bater na porta, pegar informações e ir pro trabalho com menos questões internas lhe intrigando.
7h
A cidade estava tapada de cerração e os paralelepípedos se encontravam suados e escorregadios, mesmo assim Délia andava sobre eles ao invés de ir pela calçada, sempre preferia os paralelepípedos, Ana uma vez contou pra si que se sentia quase sempre assim, como um paralelepípedo em dia de cerração, suada, pisada e escorregadia.
Três batidas na porta de metal pesado não geram resultado, essas portas não dão o mesmo eco que as outras, olhou para o entorno da porta, ao lado viu a campanhia e pressionou.
Em seguida um homem grisalho lhe abre a porta.
- Pois não?
- Oi, eu vi que vocês tratam de pessoas, gostaria de saber como isso funciona?
- Ah, sim. Podes entrar, assim conversamos mais a vontade.
O ambiente era gélido, o metal revestia todas as paredes e a sensação de frieza era uma constante, a mesma só passava quando Ana olhava para aquele homem grisalho caminhando a sua frente, de certa forma os cabelos brancos lhe asseguravam e consolavam sabe-se lá o que.
O homem entra numa pequena peça com duas cadeiras e um ventilador, Délia pensa, pra que ventilador em tal frieza?, mas como sempre guardou as palavras dentro de si...
O homem sentou e apontou para a outra cadeira que tinha uma almofada bordô. Délia sentou e esboçou um pequeno sorriso pra ver se a tensão passava.
- Como te chamas?
- Meu nome é Ana Délia, mas podes me chamar de Délia.
- Esta bem Délia, e quais são suas perguntas?
- Qual o seu nome?
- O meu nome é Paulo.
- E como vocês tratam pessoas? Como isso funciona?
- Tratamos através da radioatividade, já ouviste falar?
Ana tenta dizer que não e logo que a palavra vai sair ela sente a mesma voltando e a perda da fala fica inevitável. Sua boca fica pegajosa e uma gosma verde vai grudando nela como se fosse um chiclete.
Os olhos de Délia ficam arregalados e num piscar de olhos a gosma possui seus olhos também, Délia tenta se mover e logo sente seu traseiro colado na cadeira grudado por uma gosma verde.
Em poucos segundos Ana não é mais Délia. Totalmente gosma, verde, despersonificada. Paulo, que muitas vezes é Luis e também Paulo Luis, começa a gargalhar da gosma, um acesso de riso toma conta dele e mesmo se tornando gosma Délia ainda sente e se assusta, está frágil, vulnerável e ainda tem um babaca rindo da sua cara.
Délia começa a querer se mover mas só escorrega, vontade de gritar, chutar, berrar, chorar, a fúria vai tomando conta da gosma verde e a porra não explode.
Paulo para de rir olha pra gosma e diz, agora não és mais Délia minha cara Ana, és apenas uma gosma e eu vou cuidar de ti.
Mais um ataque de fúria toma conta de Ana, aquelas mão tocando em seu corpo gosma, aquele olhar fixado na gosma. A GOSMA É APALPADA, ASFIXIADA, ASSEDIADA E ANA NÃO REAJE nem um pouco ALÉM DE GOSMA.
A gosma verde é levada para uma sala que possui tubos de ensaio de todos os tamanhos.
Em baixo de cada tudo tem diversos nomes, PAULO SE DIRIGE A UM TUBO BEM GRANDE QUE DIZ: BIPOLAR BODERLINE.
Ana emputessida tenta gritar mais uma vez e logo se sente escorregando por um vidro e não entrar no tubo de ensaio torna-se impossível. Agora Paulo está sério, atento e analisa o verde dela dizendo: Esse verde é deveras reluzente.
ANA LOGO PENSA QUE SE FODA O VERDE RELUZENTE, EU QUERO MINHAS MÃOS, MEUS PÉS, MEU ESTÔMAGO, MEU ROSTO, MEU CÉREBRO. O doente, Paulo, que cuida de pessoas continua repetindo o elogio ao verde e não percebe nada mais de Ana Délia.
Ana Délia vê diversas gosmas de várias cores, uma em cada tudo, cada uma numa classificação, e por mais que se mova não consegue estourar a porra do vidro.
Agora ela chora por dentro, sem lágrimas, sem som.
Não é mais Ana Délia, nem Délia muito menos Ana.
Paulo vai colocando diversos líquidos no tubo onde esta a gosma verde, pra ver suas reações. Mesmo não gargalhando mais, Ana sabe que ele se delicia por dentro.
Mesmo assim não acha sua mão pra mostrar pra ele o dedo do meio e dizer bem alto, CONHECE ISSO? SOCA NO CÚ.
ELES VÃO À FEIRA EXIBIR SUA CABEÇA (Raul Seixas)
AQUI ME TENHO
COMO NÃO ME CONHEÇO
NEM ME QUIS
SEM COMEÇO
NEM FIM
AQUI ME TENHO
SEM MIM
NADA LEMBRO
NEM SEI
À LUZ PRESENTE
SOU APENAS UM BICHO
TRANSPARENTE (Ferreira Gullar)

O NÃO-LUGAR

Eu tenho andado em busca, do que é o não lugar
Sou o não-lugar
Vivo o não-lugar
A casa ta no não-lugar
A cama no não-lugar
As roupas
As taças
Os dias
As tardes
E isso é bom.

Hoje

Felicidade eu não entendo...

amanhece, e ela vem assim, com o correr do dia.

Faz bem. Nela tem risada, carinho, olhares.

Por dentro tem mais ainda... Mas não sei dizer

é algo assim

que me deixa de boca aberta

de tanto viver.