quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Código de ética

Não era essa a regra.
Era pra teres medo do amor
Era pra deixares meu coração gelado
Era pra me usares

Não era essa a regra
Não devias saber seduzir
Nem ser assim, sedutor por natureza

Não era essa a regra
Nossos encontros não deveriam resultar em dor no peito
Nem em pensamentos obsessivos

Não era essa a regra
Teus olhos não poderiam brilhar
Os meus então
nem se fala

Nossos corpos deveriam ficar mudos

Não deveríamos nos olhar assim
Não era essa a regra

Eu não deveria suspirar fundo só de lembrar de ti
Eu deveria não te dar bola
Essa era a regra

Deveria estar fácil dormir
Deveria estar fácil chorar
Deveria estar tudo cinza


seu destruidor de regras!

Portela

O cheiro de suor e o hálito de cerveja não lhe importavam, enquanto tocava o samba, e ele a conduzia, se sentiu no paraíso.
Não, seu par não era um galã
Estava caracterizado como o brincalhão da festa
Tinha uma pança que roçava na sua
Não se enquadrava a uma cena novelesca
Mas tinha a ginga.
Entrou o ano gingando e conduzia como ninguém.
Cecília se sentiu no alto do morro, na roda de samba.
Ela estava numa subida, mas não era o alto do morro e a roda de samba era representada por um pequeno amplificador, nesse estava acoplado o pen drive com os melhores sambas daquelas cinco horas corridas.

Entrou o ano cheia de poesia
Seus pés escreviam palavras no chão, depois ficaram uns minutos pra cima
Os pés mortos a tantos anos não estavam mais acostumados com essa rotina prazerosa
Cansaram de prazer, mas logo restabeleceram a vida.

A comida era farta e o sorriso também,
Entrou o ano vendo tanta vida que viver foi o que lhe restou
Não teve escolha
Só pode gargalhar
Tanto, que as bochechas até doeram

Por um instante se desmaterializou
Não acreditou na escravidão do corpo
Desconsiderou sua pança
Desconsiderou sua auto-estima baixa
Sorriu para as fotos mesmo sabendo que se sente feia assim

Não era o belo físico que lhe interessava
Sua alma transbordava
A alma gritava, sorria, sambava
Não via seus olhos, mas sabia que neles reluzia diamantes

Teve certeza que estava em seu lugar

Lá os pratos eram de plástico, tudo para evitar o trabalho árduo
Logo o prato virou pandeiro, valia qualquer coisa para acompanhar a"roda"

Além da alegria, a comida também era farta,
foi convidada e não precisou levar nada
Os doces foram feitos pela Nona

O pudim, categoria ouro, derreteu em sua boca como um beijo proibido
Logo se tornou um beijo roubado
Seguido de um beijo pedido

Era tanto prazer, que seu olhar uma hora parou,
Os pensamentos quiseram assumir a cena
Não conseguiram
Passou alguém
Cecília não sabe o nome, era muito gente, uma família grande

Então, mais uma vez, veio o homem
Estendeu a mão e conduziu Cecília para aquele estranho e maravilhoso lugar onde quem leva a dança não é ela.
Continuou sorrindo e cantou o samba

"Se um dia
Meu coração for consultado
Para saber se andou errado
Será difícil negar
Meu coração
Tem mania de amor
Amor não é fácil de achar
A marca dos meus desenganos
Ficou, ficou
Só um amor pode apagar
A marca dos meus desenganos
Ficou, ficou
Só um amor pode apagar...

Porém! Ai porém!
Há um caso diferente
Que marcou num breve tempo
Meu coração para sempre
Era dia de Carnaval
Carregava uma tristeza
Não pensava em novo amor
Quando alguém
Que não me lembro anunciou
Portela, Portela
O samba trazendo alvorada
Meu coração conquistou...

Ah! Minha Portela!
Quando vi você passar
Senti meu coração apressado
Todo o meu corpo tomado
Minha alegria voltar
Não posso definir
Aquele azul
Não era do céu
Nem era do mar
Foi um rio
Que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar
Foi um rio
Que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar
Foi um rio
Que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar! (Paulinho da Viola)"