sábado, 23 de junho de 2012

Página em branco

Ela andou até a esquina e estacionou na parte escura da rua. A música do rádio lhe tocou a alma e então gotas escorreram de seus olhos, ficou assim até atingir os prantos.

Quando a lágrima tocou sua boca pode sentir o gosto tão comum de soro. Aquele era o seu remédio. 

Estava tudo tão forte que chegou a pensar que seus olhos nunca mais enxergariam. Justamente no momento em que se deu conta do mundo real. Ali onde se tornou nítida a sua percepção do real também poderia ser a sua morte, o fim por não enxergar.

Vieram os soluços e o medo, o desejo de voltar causava tristeza. Um mundo havia sido descoberto e não havia mais cobertores para lhe abafar.

Depois disso entendeu o porquê de tantas declarações. Compreendeu o seu tamanho e teve que acreditar, não se sabe porque, que a dor passaria. Talvez tal crença evitasse a morte, ou melhor, o suicídio.

Quantas dores um ser humano aguenta? Nunca se encontrou a medida em nenhuma ciência. Justamente por SER humano, vai além das medidas e das receitas.

Quantas lágrimas ainda sairão, quanto aguentaria chorar. Acreditaria que pode acabar? A dúvida do futuro é a angustia no presente. A despedida do passado é tristeza pelo luto.

Assim morreu em vida, pra poder nascer novamente.

Um comentário:

  1. Morremos em vida para nascermos novamente. Já senti coisa parecida, as vezes sinto ainda...
    Dá uma olhada nesse link:
    http://coordenacaodolivro.blogspot.com.br/2012/06/el-cielo-de-julio-cortazar-por-martin.html

    Venha para Porto nesta data, vai ser muito legal.
    bj

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