Lucíola sentada no carro, em pleno engarrafamento, se olha no espelho. Percebe seus olhos mais caídos nos lados, e embaixo eles passam a ganhar uma linha que não possuíam outrora.
O tempo passou, passou, passou e ela não viveu.
Aliás só se deu conta que ele existia quando viu suas marcas em seu rosto. Na verdade já havia percebido no rosto de seu irmão, no de seu namorado, no de seus pais. Mas acreditou que com ela não aconteceria, e eis que além de ver o tempo ela passa a senti-lo.
Com o passar do tempo ela vai percebendo que é finita, e que é aproveitar ou então repetir a mesma rotina.
E quando falo em rotina serei explícita:
Acordar tarde, até porque não sabe o que fazer com o tempo livre das manhãs, correr à tarde em seus estudos e ofício, afinal está sem tempo, à noite lamentar que está longe de seu namorado e então não se sente aproveitando o tempo.
Quando tempo Lucíola dedica a si a aos outros? Quantas amizades ela já fez em sua nova cidade?
A resposta é zero. Zero tempo! Zero café, zero conversa, zero amizade, zero dedicação ao outro. Talvez até hoje, até o momento que viu seus olhos pequenos e murchos na frente do espelho não tinha percebido que não se doa. Preferiu reclamar a falta que cultivar a presença, e eis então que fica mais fácil pensar em voltar pro lugar que tinha tempo ao encarar que aqui também poderá ter tempo, e tempo dos bons!
Talvez a partir de hoje, vá que seja mesmo, ela se assuma como viajante. Sempre foi assim, sem lugar certo, passageira, mas como quem tá de passagem não tem tempo, poderia sim ser viajante, daqueles ávidos a conhecer pessoas e lugares.
Acordar cedo para passear na quadra; conversar com o Walter, o porteiro; ligar para as pessoas e marcar cafés, ler o capítulo do livro que sempre diz não ter tempo; viver mais sua vida e lamentar menos a ausência de um sonho que nunca chega, um sonho fantasia, que ao que parece não se fará realidade por si só.
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