segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
sábado, 7 de dezembro de 2013
Tiro
O homem deitado está sangrando, sai de sua cabeça tanto sangue que mesmo que só eu veja, me apavoro. Pablo, o cara de boné, que deu o tiro, possuía também uma gravata. Estava se enforcando aos poucos e vendo até quando seguiria caminhando com pouco ar.
Mas voltando ao homem deitado, ele tinha as mãos secas e ásperas, aquelas que não tocam ninguém, ou se tocam chegam a deixar a pele vermelha.
Ele estava deitado, ensaguentado, morto com suas mãos privadas. Não privadas agora, privadas desde sempre.
Logo correram boatos pela bairro, a cidade é grande, mas no bairro todos se conhece. Dizia o porteiro que ele era do prédio vizinho e que o Pablo era seu primo e tinha problemas de cabeça (suspeito eu que a falta de ar fez com que o sangue não fosse para a cabeça faltando oxigênio para o cérebro, mas são só suspeitas).
Voltando, o porteiro disse isso. Já o pipoqueiro, que trabalhava na escadaria próxima ao assacinato, disse que todos os dias ele passava ali pelas escadarias, as vezes comprava pipoca e até era legal, mas o por quê dele ter sido baleado, e na cabeça, ah isso ele nem suspeita, aliás ele disse: "coisa de gente grande não é comigo, eu só vendo minha pipoquinha, volto pra casa e fico com minha veia, não sei mais nada seu moço".
Eu perceber que isso é coisa de gente grande. Mas que gente grande é essa? O que o pipoqueiro quis dizer com isso? Meio ilógico... principalmente pra mim que entendo as coisas no literal.
Enfim mais um homem morto. No dia seguinte encontrei uma vizinha no elevador, coisa rara porque aqui, apesar do prédio grande não se divide elevador, deve ser coisa de cidade grande. Porém quando se divide também não se conversa, se possível nem se dá oi. Mas não é que, desde então, todo o prédio esta a comentar. É um entra e sai no elevador, todos querendo pegar o elevador juntos, todos querendo saber porque mataram o Cardoso.
Dentre as diversas histórias, essa vizinha que encontrei no elevador disse que a mulher traia ele. O Pablo era o amante da mulher dele, e apesar de o Pablo insistir pra ela ficar com ele, a mulher não largava o osso do marido, no caso o Cardoso. O Pablo, com a auto-estima baixa pensou logo, se ela não tá comigo, não vai ficar com ninguém e tratou logo do assunto.
Mas essa não era a única história, tinha gente dizendo que ele nem era o Cardoso nada, que o Cardoso saiu de férias com a esposa e que quem morreu foi o Pablo, justamente porque foi se encontrar com a mulher do Cardoso, mas como ela não estava em casa resolveu voltar pelo túnel, à noite e deu no que deu né, assalto a mão armada seguido de morte. Morte essa com tiro na cabeça e direito a muito sangue.
Se ele era marido ou amante eu não sei, mas que as mãos não eram acostumadas com o toque macio, ahhh isso não eram!
Ah e essa última sou eu, aqui casa sentada casa escutei o tiro, logo pensei, Ah seu Cardoso, andando na rua a essa hora?!
Enteadas
Sempre quis ter filhos, porém sempre adiei para daqui a 20 anos, depois 15, agora 10 e mesmo assim, confesso que não sei.
Eis que fui à Pelotas ver meu companheiro, fui no bate e volta, afinal tenho concurso no domingo. Enfim, voltei para Porto Alegre e cheguei pelas 17h. Como de costume senti uma vontade imensa de estar lá com ele e com minhas enteadas.
Recentemente li uma reportagem que dizia que hoje enteados(as) são mais frequentes em nossas vidas do que imaginamos e confesso que sinto isso na pele, aliás no coração.
Passado o desejo de estar lá e não aqui, me acomodei em meu ninho, assisti televisão, adiei os estudos e os e-mails. Resolvi ligar para meu namorado, ver como estão as "coisas" e eis que grita uma vozinha do fundo "eu quero falar com a tia Marcela" e logo em seguida outra voz diz "eu primeiro". Enfim minhas enteadas. Duas meninas lindas, 4 e 6 anos. A de 6 fez aniversário mês passado. Dois presentes, que eu tenho acompanhado o crescimento e um laço que não entendo exatamente, mas que está aí, a todo momento vivo.
Confesso, que como psicóloga, mas mais como uma defesa minha, faço questão de me manter em meu lugar, ou seja, não suprir as necessidades de pai e mãe e não me sentir responsabilizada por elas, apesar de minha mente estar sempre preocupada e fazendo ensaios diferentes dos da realidade. Normal... mas ficam só nos pensamentos, afinal sou a Madrasta.
Minha relação com elas é bem clássica, vejo de 15 em 15 dias e fico só com a parte boa que é: sorvete, cinema, passeios de carro, parque e afeto gostoso. Mesmo com essa distância é bom, confesso que é bom demais.
Percebo quando uma está mais gordinha e logo espicha e emagrece, vejo o dente da outra cair, olho as mãozinhas crescendo e fingindo serem adultas, afinal estão sempre com esmaltes mal pintados e com purpurinas. Ah, sem contar as sessões de maquiagem, que podem ser a brincadeira de uma tarde toda, cada uma tem seu estilo e ficam bonitas a seu modo.
Não posso negar que ganhei dois presentes, também não saio gritando aos sete ventos, em um ano e meio é a primeira vez que escrevo sobre isso e penso que esse cuidado faz parte.
A partir disso tenho desejo de vê-las crescendo, do jeito que me cabe é claro, mas quero muito ver tudo isso.
E apesar de continuar com os planos de ter filhos somente daqui a 10 anos, elas fizeram eu ver que ter crianças por perto é bom, e mesmo que dê trabalho, existe algo de mágico que me parece valer a pena.
Este é um depoimento singelo mas queria deixar registrado, mesmo que só eu leia, mesmo que só eu saiba, são tantas coisas aqui dentro de mim que senti vontade de colocar pra fora. Ficaria um dia todo falando de apenas uma tarde que fico com elas, mas apesar de belo, seria um pouco enfadonho.
E só para finalizar, enteados(as) valem a pena!
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