quarta-feira, 25 de agosto de 2010

MORTO VIVO

A tampa pesada se desloca. No meio do asfalto de dentro daquele esgoto, nasce Carlus. Já nasceu com 30 anos. Não mamou, não chorou, não rio, nunca sentiu.
Carlus se levanta, respira fundo, seu primeiro contato com o ar, com aquilo que lhe manteria vivo ao encher seus pulmões. Carlus já nasceu andando, com total equilíbrio. Neste mundo que nasceu, sai a andar, pela rua asfaltada, tudo preto. Ao caminhar sente algo que vai e volta e às vezes bate em sua barriga, e nas costas.
Vai, volta, barriga, costas. Vai e volta, barriga, costas. Quando olha, pergunta: O que é isso?
Isso se chama braços. Uma voz lhe disse.
Os braços mortos de Carlus. Ele não conseguia ter domínio sobre aqueles molengas, vai e volta, barriga, costas.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

E de repente vem aquela vontade de rasgar a bandeira, de chutar o balde
mandar tudo longe
e me entregar

mas

eu ainda estou aqui

sábado, 21 de agosto de 2010

Tá faltando
poesia
literatura
sentimentos
vida
...
tá faltando
música
canções
silêncio
...
tá faltando
o mudo
...
tá sobrando
o surdo
o chato
o ego
...
tá sobrando
tudo
e EU

Caretisse da loucura

O mais doido da doidera é que ela é estremamente careta
é algo previsível
enfadonho
completamente igual a sempre
isso se torna doido, porque a doidera é chata
e só sendo mesmo doido
pra querer estar junto dela
e ainda botar tudo a perder.

...

seguindo em frente
na verdadeira lucidez que é viver
de cara.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

- Afinal o que agente vive?
- Tem que dar um nome?
- Não sei, é o que se faz.
- Hum.

Silêncio

- É o que se faz, não o que eu faço.

Silêncio

Muitas horas depois: estou apaixonado por você, não consigo entender.
- Eu consigo.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Ma, cresceu dançando, todas as manhãs, Zê lhe coloca música e ela dançava pela sala.
Lembra como se fosse hoje, dançando "maluco beleza" porque Zê era fã de Raul e desde então, a loucura passou a ser apreciada por Ma, sempre com muito carinho, respeito, admiração e amor.
Além disso, tinham as comidas que a Zê fazia: feijão preto, abóbora doce e suco de laranja com cenoura. Tinha o pão e a torta de legumes, bem colorida.
Tinha a louça que a Zê lavava, que sempre ficava sabão escorrendo.

-Zê, o copo tá com sabão escorrendo!
- É melhor o sabão escorrer do que estar sujo, sabão nunca matou ninguém. Não reclama não, porque tu nunca vai achar alguém igual a mim.

VERDADE SEJA DITA
Nunca mais alguém igual a Zê apareceu, porque a Zê é definitivamente única.

....

- Ma, e o teu filme, estás assistindo?
- Não Zê.
- Por que tu não assiste mais o filme?
- Porque os dinossauros morrem no final, e eu fico muito triste.

Zê enche os olhos de lágrimas, sabe bem o que é isso.

Independente da idade, Ma e Zê se entendiam como nunca. Zê entendia a alma levada de Ma e Ma compreendia a alma hiper levada de Zê.

- Zê, porque teu dente da frente é torto?
- Porque o teu também é!
- Ah, bom!
- Zê, porque o meu dente da frente é torto?
- Porque tu puxou a mim.
- Ah, bom.
- Zê eu quero ter cabelo preto igual ao teu.
- Quando tu crescer tu pinta.
- Mas eu queria ter agora.
- Eu sei como fazer Ma.
- Aé?! Como?
- Papel crepom preto, vai ficar igual ao meu.
- Ai Zê tu faz em mim?
- Sim, vou pedir pra tua mãe comprar o crepom.

Ma abraça Zê.

- Zê quando eu vou pra tua casa?
- Ué quando tu quiser.
- Eu quero ir hoje.
- Tá bem, eu te levo.
- Por que tu quer ir lá em casa?
- Eu gosto da escada! A escada mais alta que eu já vi, é tão bom tá lá em cima.
- Sim eu sei como é.

...

Com 12 anos, Ma foi seqüestrada, igual a Lucia foi, do mesmo jeito. Nunca mais viu Zê, mas sempre sonhou, sempre em rever Zê.

Verdade seja dita: nunca existiu alguém igual a ela.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

E de repente um forte barulho vem lá de fora.
o cadeado foi quebrado, a porta aberta
não há mais proteção.
Lucia está assustada, afinal não se lembra quando ficou em cativeiro.
...

Um homem se aproxima: dizendo, calma, calma, vamos tirar você daqui.
Lucia permanece assustada, a muito apenas se alimentava, nada mais.
O homem chega perto, e Lucia salta sobre ele, e começa a morder sua orelha, até sanguar.
É preciso se proteger, vá que ele não seja realmente alguém que veio lhe buscar.
...

Quando morde a orelha de tal homem, um fecho de luz cega seus olhos
Se torna tudo mais confuso ainda.
Apesar da dor que sente, o homem não machuca Lucia, ele compreende os diversos anos de cativeiro.
Já trabalha a muitos anos nisso, e sabe que está poderia ser uma reação de quem estava preso.
...

- Moça, moça! CALMA. Eu estou aqui pra lhe ajudar, calma.
Lucia está perdida, mas agora não está mais só.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Feminino

O que é o feminino?
Como conviver com outros femininos além do meu, sem me encher o saco de tanta futilidade?
deve ser isso
o que é eu não sei
mas feminino não é futilidade.