segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Saudade é um dos sentimentos mais urgentes que existe. (Clarice Lispector)

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A morte de Ursula

Ursula estava amarrada àquela cama.
De seus olhos corriam lágrimas, de pavor, de medo.
Naquele instante a confirmação do medo.
Lucifer surgiu, com um machado, e uma risada de amor ao seu lado.

Cada machadada embaixo do seu joelho fazia com que ela urrasse de dor.
e assim ele foi naquele movimento:
uma machadada
duas machadadas
três machadadas
quatro
cinco
seis.

A dor parou um pouco, ela havia atingido um estágio de dormência completo.
Dizem que o corpo tem dessas coisas.

Quando Ursula olha para o chão, lá estava: metade de sua perna caída ao chão, havia um vermelho marrom por ela, esse vermelho marrom, era muito diferente do vermelho amor.

Seu corpo, sua semi-perna, suas entranhas, estavam tomadas daquela cor.

Ela então grita: Ahhhhhhhhh
Não adianta. Lucifer se delicia com a possibilidade de lhe arrancar mais meia perna.

uma machadada
duas machadadas
três machadadas
quatro
cinco
seis.

A dormência, por toda Ursula.

MINHAS PERNAS! MINHAS PERNAS! MINHAS PERNAS!
As lágrimas...

Lucifer cala. Fica quieto com aquele machado na mão, assume então uma cara de perplexo.

Ursula chora, não aguenta mais, a dor começa a retornar.
ela sabe que é seu fim.

Ursula então,
MORRE.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

percebendo o lascivo

que novo foi
estar ali sentada,

o cigarro aceso
o sincero...

sua presença.

- Olha você está aí, sentadinha! (sua frase, meu sorriso)

Nossa você sempre esteve ali, e eu nunca tinha visto.
Que estranho, novo.
Você falou de você, ficou um pouco vermelho, calou.
Não respondi, palavras não importavam

olho no olho
olhos sorrindo

silêncio

Coisas novas começam a nascer,
era o meu lado lascivo falando.

Discrição, sim, sim, é a minha.
Porém a negação não.

Não estou com pressa.
Vou testando novamente,
vou olhando, admirando,
uma nova beleza em minha frente,
uma nova beleza tão antiga.

Ah, meu coração dói, está dolorido! Não é hora de mexer com ele.
Olhares novamente
olhares
olhares
olhares
Surgi mais um sorriso lindo!

Me desnudo porque sou transparente.
Me desnudo porque gosto assim.
Me desnudo porque é melhor sofrer, do que me manter atônita por medo.
Me desnudo
me recrio
vivo sentimentos
não mais sonhos.

Me desnudo
não sinto mais calor nem frio
me desnudo
e fico melhor.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

E diante de tanto amor
o que me resta?
assumi-lo

Não tive como:
tentei
tentei seguir
mas a razão
não funciona mais

meu sentimento tomou conta de mim
e eu assumo-o
faço isso por ti
porque sei que mereces meu amor
mereces ser amado
mas não por outra
e sim por mim.

Não que eu seja um suprassumo
nada disso
mas sim porque eu me proponho
sempre
a seguir
e tenho tanto amor
que te colocaria cheio dele
porque você
é um homem
que tem que ganhar muito
mas realmente muito!

E eu estou aqui
com tudo isso.

Tenho pressa?
Sim, por favor pra ontem!

Mas, também respeito o tempo.
então
que seja quando der.
Mas, que seja!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Neste dia não entreguei toda a minha existência ao teu existir
mesmo que minhas memórias relutem
insistam em querer brincar comigo
hoje eu segui.

Por horas parei,
quase chorei,
diante do sol, fui nascendo e morrendo
o presente vivo
um futuro morto.

Não vive todo meu dia em ti
nem por ti
mas quis sim
te esquecer
por não te esquecer.

Quiz te matar aqui dentro de mim.

Vã tentativa.
o vivido não se apaga.

O futuro?
Sim!

Affonso Romano de Sant'anna

ALÉM DO ENTEDIMENTO

A essa altura
há coisas
que (ainda)
não entendo.

Por exemplo:
o amor. Faz tempo
que diante dele
me desoriento.

O amor é intespetivo
eu sou lento.
Quando ele sopra
- estatelado -
mais pareço
um cata-vento.




ASSOMBROS

Às vezes, pequenos grandes terremotos
ocorrem do lado esquerdo do meu peito.
Fora, não se dão conta os desatentos.
Entre as vértebras e as costelas
há vários esmagamentos.
Os mais íntimos
já me viram remexendo escombros.
Em mim há algo imóvel e soterrado
em permanente assombro.

domingo, 5 de dezembro de 2010

(o não parto de mim) (parto de mim sem nascer)
Hoje nenhuma palavra me concentra, nem contos, nem poesias, nem rabiscos.
Guardei minha melancolia desde cedo,
Já pela manhã esperei o ônibus e não havia nada de poético em minha visão
Hoje eu não li os jornais,
Notícias não me interessam.
Hoje eu não falei com amigos.
Pensei em alguns inimigos;
hoje eu vesti aquele velho trapo que me faz lembrar de você
como se a tortura fosse uma forma de vida que eu estava necessitando
vi diversas crianças, porém a minha aqui de dentro permaneceu dormindo
vi alguns beijos e minha boca não encontrou nada
apenas o paladar foi degustando o doce das guloseimas que tentaram substituir qualquer vida não vivida,
qualquer ato atado
morto
Tá certo, eu fumei cigarros,
mas isto não passou de um ato masoquista de minha personalidade autodestrutiva
Hoje não bebi a taça de vinho
Não encontrei transas postiças
Fiz isso tudo porque quis
Eu quis sofrer,
quis atiçar meu paladar com o mesmo de sempre
e quis repetir o dia que tanto conheço
mas isso foram minhas escolhas
acordei decidia a viver um dia morto.

Palhaço em preto e branco

Véspera de feriado, o bar cheio, a sinuca rolando.
Alguns cumprimentos ou seriam comprimentos? De missão comprida?
O cenário estava montado,
todos os atores do palco buscavam o mesmo final
me encontrei em meio a holofotes, diante do subto desejo de usar ou seria ser usada?
Essa peça eu encenei diversas vezes,
O texto mais que decorado ja sai sem pensar.
Saí do palco preto e branco
pensei muito no branco, no poder que ele ainda tem sobre mim.
Não quis ser palhaça do circo sem cor
não quis me escurecer por algo branco que vem a meu encontro, ou eu vou ao seu encontro?
A ordem não interessa.
Apesar de resistir por um bom tempo,
resolvi destruir tudo que tinha em cima do palco
Deixei os figurantes em seu local e escolhi que eles não completariam mais minha cena
Voltei pra casa sem encenar só por hoje.
Fui sincera comigo.
Admiti com bastante dor que sou impotente,
impotente perante o branco no preto, ou seria no prato?
Impotente perante à atriz que me transformo
Só tenho poder se eu negar o branco
Assim me apodero de mim
reluto, me debato e no fim vejo que vale a pena
Só por hoje eu não usei
só por hoje eu escolhi manter as cores da minha vida
só por hoje eu adimiti que está na hora de buscar amores sem estar alterada quimicamente
só por hoje revi que sou carente e que a droga nunca tapou meu buraco
só por hoje não encenei e nem quero encenar
só por hoje eu tenho fé e permaneço a tentar sem as covardias que a droga me trás.
Andei observando os teus olhares
Preocupado com o que os outros vão pensar
Todas as perspectivas que trazes são dos outros
Se te submetes a isso eu não me submeto
Por isso abdico desse amor
Já fui por muito tempo presa aos olhares alheios
Hoje acredito nos meus olhares
Não consigo te amar!
Teu toque limitado me angustia
Preciso de mais.
Eu quero um tango verdadeiro
Eu quero música na cabeça, ela não precisa estar presente.
Alvorada bateu em minha janela
Eram 4 da tarde quando vi que a vida nascia
Hoje vi a vida, bem de perto
Vivi a vida até quando estava no bonde, lotado, o vento na face, o beijo do céu
Hoje encontrei uma foto sua
Lembrei do teu número
e liguei, justamente porque o que está ao nosso lado, agente não encherga
Hoje renasci, perdoei meus erros, rumei pro presente.
Revi papeis, criei um novo espaço aqui dentro
ouvi atenta as partilhas, me deprimi e no fim dei risada.
Hoje aceitei que não morri e que agora a escolha é viver.
Agarrei isso bem forte, sorri, sorri, sorri.
Não esperei mais. Degustei
- É boa esta bebida?
- Tem um pouco de gosto de remédio.
- hum, isso tu tá acostumada.
- é

Quantos remédios prescritos serão necessários para deixar um homem dentro da normalidade desejada?
Quantos remédios me darão e me ameaçarão de insanidade caso faltar?
Qual o problema dos não sãos?
Não quero e nem pretendo matar alguém.
Me dopam e eu não tenho falado nada.
Agora me apoderarei de mim, direi: não sou doente, por mais que todos tentem,
ganho classificações no CID-10, DSM-IV e assim por diante.
Mas tudo que quero é gozar a vida, viver na minha intensidade, mesmo que ela seja diferente dos demais.
Uns gritarão LOUCA, outros dirão anormal. Não tem problemas, cresci assim e sei muito bem o que é ser taxada em um mundo caretinha onde terno e gravata é que é ser normal.
Por isso, embora tenha ligado ha muito para tais rótulos, assino aqui, hoje, a demissão da preocupação.
Me chamem do que quiserem, eu sei o que sou, e se isto é ser louco socialmente eu só tenho as lhes dizer, ser louco é a melhor coisa que há e eu não trocaria isso por nenhum dia normótico gabinetosferizada em qualquer canto burocrático deste mundo.
Eu vi
hoje vi
uma flor
uma rosa
jogada ao chão

ela veio no seu carro
abriu a janela
e colocou a rosa fora

aquela rosa
cheia de espinhos
mas com um vermelho lindo
amor
inconfundível.

é assim
assim que me sinto

uma rosa
envolta de um papel
um plático
de lá eu via o mundo
amavá-o
mas estava presa
presa e cada dia mais sufocada

um lástima
tanto amor
e tanta solidão

duas
duas
duas

e essa história
de ser eu
ainda vai me dar trabalho

pelo menos
sou Eu
Canta que é no canto que eu vou chegar...
canta teu encanto que eu vou chegar.
...
que explique a minha paz!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Agora mudei a rota: na verdade a vida mudou por mim e eu resolvi segui-lá.
Não quero mais brigar com a vida.
Sempre quis mesmo ir pra pasárgada, mas o tempo que estive lá foi ilusão.
Então fico aqui, me acostumando com a vida real, com momentos reais, sentimentos reais. Tudo na maior ânsia de existir, e tem horas que mergulho em um mar revolto, e quando saio dele respiro como um bebê respira quando nasce. Minhas primeiras respirações.
Talvéz eu seja assim, porque pra mim não há a primeira, e sim primeiras. Porque eu deixo sempre a vida me surpreender.
Ingenuidade?
Não, escolha de vida!
Já vivi muitas coisas pra ser ingênua, e foram justamente todas essas coisas que me permitem hoje ver a vida como algo sempre novo, nascendo, brotando.
Essas vivências me fizeram assumir uma postura ingênua, mesmo que eu sofra mais eu também me alegro muito mais, me permito mais. E sem está poesia que é viver, eu não saberia encarar a vida de outra forma.
Estou sempre me reformulando, me sinto guerreira de mim. Agora em novo momento, tenho que passar a aprender a reformular o outro dentro de mim, pra que as coisas durem de verdade. Pra que meus amores sejam duradouros e não apenas mais um que passe em minha vida, mesmo que significante.
Quero alguém que queira estar acontecendo comigo e que veja que a vida é sempre este reinventar e que está é uma arte a ser aprendida, dói mas dói mais não tentar.
Então eu vou tentar, talvez seja um tanto jovial, mas meu espírito é assim, e eu vou sempre tentar, sou o tipo de pessoa que não desiste.
Já passei por tanta coisa que sei que tento, e não me permito outra postura que não seja a de viver.
Claro que as vezes canso, mas viver é também cansar. E quando canso eu paro, descanso e sigo no meu reinventar.
É preciso criatividade, disposição e não esperar que o mundo lhe dará tudo de mão beijada. Então aí vem a atitude, e perder o medo de se machucar.
Na verdade o medo nunca se perde, nunca, mas é preciso enfrentar. Continuar vivendo.
Em que tudo isso vai dar? Não sei. Minha vida não tem resposta como as de ninguém tem. Só sei que este é o meu jeito de existir e por enquanto vale a pena tentar.